Hoje acordei e pela primeira vez em muitos dias senti-me em paz.
Sorri quando assomei à janela e os primeiros raios de sol da manhã beijaram docemente a minha face. Soube que melhores dias estariam guardados para mim e que a tempestade começava a passar. Não, ainda não te esqueci. E sim, ainda te amo do mesmo jeito irritantemente imenso. Mas aprendi a lidar com a tua ausência. Aprendi que ninguém deixa de viver por falta de outra pessoa, mas sim que os seus dias se tornam menos luminosos. E os meus começam a ser penetrados timidamente pelos primeiros raios de sol (outras vezes de luar). Alguns dias ainda são de chuva mas tornam-se cada vez mais raros. A tristeza, desilusão deram lugar à paz e tranquilidade. Não penses que foi fácil. Que um dia acordei e decidi tomar toda essa atitude. Não. Foi um processo lento e que está longe de chegar ao fim. Tirar alguém como tu da nossa vida não acontece de um dia para o outro nem por simplesmente querermos. E se eu te disser que ainda choro de cada vez que encaro com alguma foto? De cada vez que oiço uma musica que me lembra de ti? Se te disser também que me falta a coragem para tirar o anel que nos unia, símbolo de compromisso?
Vai demorar até cada pedaço meu estar reparado. Mas aprendi a lidar com a ausência, até porque a pessoa por quem me apaixonei já partiu à muito deixando outra no seu lugar. Quem sabe se não a volto a encontrar um dia, num outro lugar e numa outra ocasião…. e aí talvez…
Mas agora, neste momento, sei sobretudo que não poderia ter sido de outra forma a não ser desta.

São quatro da manhã.
A chuva cai lá fora docemente enquanto eu, mais uma noite, acordo de madrugada com o sobressalto de coisa nenhuma. Viro para a esquerda. Viro para a direita. Enterro o rosto na almofada. Cubro a cabeça com o cobertor que tantas vezes foi o nosso e enrolo-me na almofada que era tua. O teu perfume foi desaparecendo com o acumular de noites em branco agarrada a ela, também pelas tantas lágrimas que nela caíram. Agora já não o sinto mais e isso faz-me parecer ainda mais distante do que um dia foi real e verdadeiro. Ou será que sonhei?


Hoje, enquanto tristemente voltava à minha rotina, ouvi uma música que me lembrou quem eu queria esquecer. E nesse momento percebi o quanto me tinha enganado este tempo todo. A tua existência estava longe de me passar ao lado. E o sentimento, o tal sentimento, ainda lá estava. Compreendi que não te apagaria facilmente só por querer. Sim, querer era importante mas não chegava. E aquela musica interminável continuava a alto e bom som. “Flashbacks” passavam constante e incessantemente pela minha frente. Como a fita de um filme a preto e branco em “slow motion” que parece não ter fim. A melancolia apoderava-se de mim de uma maneira surpreendente. Um sorriso amargo e triste. A alegria de, apesar de tudo, ter vivido aqueles momentos contigo. A tristeza da certeza de ter chegado irremediavelmente ao fim.
Por isso te estou a escrever. Não para tu leres, sei que muito provavelmente estas palavras nunca chegarão a ti. Mas sim porque foi a forma que encontrei para aos poucos me libertar de ti e do que foste para mim. Tirar o teu perfume que às vezes ainda sinto no meu quarto. A tua imagem minuciosamente perfeita que surge de cada vez que fecho os olhos.
Escrevo para lavar a minha alma de todas essas memórias que ainda insistentemente me assombram.

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